quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Sorriso

Dizem que já foi comprovado cientificamente que o ato de sorrir pode trazer vários benefícios. Alguns médicos afirmam que o sorriso pode curar doenças, exercitar a musculatura facial, favorece a respiração, além de transmite o bem estar. Porém, eu acho que fazer alguém sorrir trás muito mais benefícios, ainda mais se a pessoa que está sorrindo “de” ou “com” você for uma pessoa que você admira, ama e respeita.

Pessoas que normalmente são “geradores de sorrisos” costumam ter boa criatividade e um grande ciclo de amigos. A solução para muitos é passar horas ao lado delas, curando suas doenças, respirando melhor, exercitando seu músculos faciais e consolidando o seu bem estar.

Fazer alguém sorrir é fácil e qualquer um tem esse dom. Quem nunca fez papel de bobo ou contou uma piada, por pior que ela seja? Quem nunca pagou umas cervejinhas aos amigos para falar besteiras e passar a noite toda rindo de tais besteiras? Sorrir é sempre bom e todo mundo gosta.

Agora o grande desafio, e nem todos possuem esse dom, é de fazer as pessoas sorrirem com a alma. Aquele sorriso que realmente “te toca”, que mistura sensações, lágrimas, surpresa, admiração, o coração bate mais forte e os olhos brilham. Para que esses sorrisos aconteçam é necessário surpresa e espontaneidade, nem que para isso seja necessário fazer o impossível. Então, viaje muitos quilômetros e faça uma surpresa a quem você gosta, mesmo que você não tenha recursos e tempo para tal. Além das velas e da música romântica faça chover pétalas de rosa no quarto. Faça a comida preferida dele(a), mesmo que não saiba cozinhar. Escreva uma carta e envie pelo correio e não por e-mail. Faça e envie uma poesia ou uma letra de música, mesmo que você tenha mais facilidade com números. Aprenda com ele(a) mesmo que você tenha vários diplomas. Pague uma cerveja, não pelas besteiras que irão falar, mas apenas por sua companhia.

Os benefícios de fazer a pessoa que você gosta sorrir não são comprovados cientificamente, talvez nunca seja, porém se você realmente gosta dela, faça-a sorrir com a alma.

Como dizia um grande e sábio amigo meu da UFF: “Faça-me ir...”

domingo, 9 de setembro de 2007

O Frio

Foto: Sebastião salgado, 1996

A luz era forte, seus olhos ficavam entreabertos e rugas se formavam em seu rosto. O suor era intenso e escorria pelo pescoço, molhando a camisa velha e surrada. Após os golpes de enxada na terra era preciso fechar sua boca ressecada para não permitir a entrada de poeira. Seu trabalho era físico, desgastante e de baixo de sol forte. Seu corpo empoeirado trazia as marcar de tal esforço, pele bronzeada, mãos calejadas e braços firmes. Seu combustível pra os longos e desgastantes dias de trabalho era a certeza de voltar para casa e encontrar sua mulher.

O calor continua mesmo ao anoitecer, a luz do lampião ilumina o casebre simples de um cômodo. Aquele corpo marcado pelo sol e pelo trabalho duro era recompensado com estranhas e prazerosas sensações. Todos os dias, ao ser beijado por sua mulher suas pernas tremiam; ao escutar seus sussurros próximo a sua orelha arrepios involuntários o dominavam; a troca de olhares causava sensações estranha na barriga.

Um dia ao voltar de mais um dia de trabalho, ele encontra seu casebre sem a luz do lampião e tomado pela escuridão. Em um bilhete mal escrito, sua mulher, declarava seus sentimentos para um outro homem. Ela o abandonou e fugiu com um músico forasteiro que visitará a cidade recentemente.

Perdido e confuso, ele deixou de trabalhar. O líquido que escorria de seu rosto não era mais o suor de seu sofrimento físico e sim as lágrimas de saudade. Ele sentia falta das sensações que sua mulher lhe causava.

Decidido a esquecer o passado e superar sua perda, ele resolve começar uma nova vida em outro lugar. Antes, era necessário fazer uma visitar a um amigo que morou muito tempo longe. Tal amigo, explicou que no local onde morou existia muita oportunidade de emprego, porém era extremamente frio. Surpreso, ele perguntou ao amigo como era sentir frio, pois nunca tinha sentido esta sensação. Seu
amigo respondeu, então, que o frio faz o seu corpo tremer e lhe causa arrepios.

No dia seguinte ele arrumou
as malas e viajou, pois queria sentir frio de novo!

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Desenho

Ele usava botinhas de couro, tinha acabado de perder um dente, e usava roupas que combinavam, escolhidas por sua mãe. Apesar de tudo ele era feliz. Feliz porque gostava de desenhar. Na verdade desenhar era sua brincadeira predileta. Caneta e papel na mão era sempre motivo de festa e certeza de horas de satisfação e prazer. Sorte de sua mãe que não precisaria mais ficar preocupada com suas travessuras. Desenhar era certeza de um mundo único, só seu, não existia regras e nem limites. Em seus desenhos o céu poderia ter outra cor sem ser o azul, as casas e prédio eram feitos com traços simples, os meninos sempre jogavam bola e os carros trafegavam em gramados. Saber escrever, naquele momento, não era importante, porque os desenhos eram seus sentimentos.

Hoje, aquele menino não desenha o seu mundo. O tempo e os estudos fizeram de seus desenhos o mundo dos outros. Os desenhos feitos por ele se tornaram regras e estética. Seus sentimentos são expressos através da escrita, pois em seus desenhos o céu é sempre azul, as casas e prédios são reais e os carros trafegam em vias. Apesar de tudo ele ainda é feliz, pois não usa mais botinhas de couro e escolhe suas próprias roupas, os seus desenhos, não!