domingo, 9 de setembro de 2007

O Frio

Foto: Sebastião salgado, 1996

A luz era forte, seus olhos ficavam entreabertos e rugas se formavam em seu rosto. O suor era intenso e escorria pelo pescoço, molhando a camisa velha e surrada. Após os golpes de enxada na terra era preciso fechar sua boca ressecada para não permitir a entrada de poeira. Seu trabalho era físico, desgastante e de baixo de sol forte. Seu corpo empoeirado trazia as marcar de tal esforço, pele bronzeada, mãos calejadas e braços firmes. Seu combustível pra os longos e desgastantes dias de trabalho era a certeza de voltar para casa e encontrar sua mulher.

O calor continua mesmo ao anoitecer, a luz do lampião ilumina o casebre simples de um cômodo. Aquele corpo marcado pelo sol e pelo trabalho duro era recompensado com estranhas e prazerosas sensações. Todos os dias, ao ser beijado por sua mulher suas pernas tremiam; ao escutar seus sussurros próximo a sua orelha arrepios involuntários o dominavam; a troca de olhares causava sensações estranha na barriga.

Um dia ao voltar de mais um dia de trabalho, ele encontra seu casebre sem a luz do lampião e tomado pela escuridão. Em um bilhete mal escrito, sua mulher, declarava seus sentimentos para um outro homem. Ela o abandonou e fugiu com um músico forasteiro que visitará a cidade recentemente.

Perdido e confuso, ele deixou de trabalhar. O líquido que escorria de seu rosto não era mais o suor de seu sofrimento físico e sim as lágrimas de saudade. Ele sentia falta das sensações que sua mulher lhe causava.

Decidido a esquecer o passado e superar sua perda, ele resolve começar uma nova vida em outro lugar. Antes, era necessário fazer uma visitar a um amigo que morou muito tempo longe. Tal amigo, explicou que no local onde morou existia muita oportunidade de emprego, porém era extremamente frio. Surpreso, ele perguntou ao amigo como era sentir frio, pois nunca tinha sentido esta sensação. Seu
amigo respondeu, então, que o frio faz o seu corpo tremer e lhe causa arrepios.

No dia seguinte ele arrumou
as malas e viajou, pois queria sentir frio de novo!

5 comentários:

Borboleta disse...

Às vezes é necessário sair do seu lugar para sentir esse frio outra vez. O ruim é saber para onde ir.
Lindo conto.
bjim

Unknown disse...

lheozão,
gostei demais meu velho.
mas essa idéia de frio tá com nada.
a hisória é sentir calor na frente de uma churrasqueira. e acho q tem 2 lugares já q pode rolar: casa de minhoca e de pirraia. sobrou cerva do batizado e lalinha tb tá pensando em nova despedida.

já tô na ansiedade pro próximo conto.
agora o lheozão é famoso mesmo.

[pc.silva] disse...

Aê, Lheozão...
Botando pra arrepiar, meu véi!!!
O cara foi trabalhar nm frigorífico, foi?!

foi, né?!

Té o próximo

Anônimo disse...

Muito boa a inocência do trabalhador.

Anônimo disse...

ah, é isso que é frio, é?
cariocas são estranhos...
aê! parabéns pelo enredo!